segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Leitura e suas peculiaridades

Essa semana que passou foi muito produtiva. Além da oficina de leitura que ministrei para cerca de 50 educadores, ainda visitei as bibliotecas públicas das 11 cidades que compõem o Alto Tietê. A oficina que ministro duas vezes ao ano para os funcionários da rede municipal de ensino de Suzano é contratada pela Secretaria de Educação através da FUNEP (Fundação de apoio à pesquisa, ensino e extensão). De todas as turmas que passaram por essas oficinas, essas duas de agora foram as mais heterogênias. Participaram professores, advogados, merendeiras e agentes escolar. Cada um com o seu credo, sua opinião e seus problemas. Logo no primeiro dia ouvi uma merendeira comentando baixinho para uma amiga: - Só escolhi essa oficina porque é a única que pode me agradar. E se eu num gostar, amanhã eu não venho. Bom, o fato é que tinha mais de 50 oficinas, e a danada da mulher escolheu logo a minha. Que ótimo, né? A senhora ali, a princípio inofensiva, e vindo só porque era obrigada, escolheu uma oficina que ia tratar do tema "leitura". Grande progresso. O fato é que ela voltou no segundo dia da oficina, e na avaliação final resolveu assinar o nome. Disse só coisas boas e que a oficina superou as suas expectativas. E não foi só ela não, todos, sem excessão, gostaram da oficina. O único ponto negativo que teve foi sobre a duração de 8 horas. Queriam mais. E pela segunda vez desde que eu ministro essa oficina, fizeram uma observação: poderia ter mais dicas de como incentivar a leitura para as crianças em sala de aula. Dica mesmo só tem uma: Disposição. Se não houver vontade não há resultados. O fato é que trabalho com o incentivo à leitura para crianças, adolescentes e jovens, e que nem todos que estão ali buscam isso, alguns querem incentivar os próprios filhos e outros a si mesmo. A Flávia, uma das coordenadoras desse processo de formação continuada, sempre liga pra mim dizendo que a minha oficina é a mais concorrida. Fico grato e feliz não por mim, mas pelos livros, já que poucos querem trabalhar com isso realmente. E na minha oficina até hoje ninguém veio para passar o tempo, todos têm interesse pelo assunto. E essa última foi bem complexa, porque trabalhamos muito com a interpretação do texto, de forma física e psicológica. Trabalhei com contos de James Joyce e Guimarães Rosa, poesias de Fernando Pessoa, Antero de Quental, Solado Trindade, Antônio Gedeão, Casimiro de Abreu, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira. O negócio foi puxado. No primeiro dia ainda dei lição de casa. Ninguém reclamou e com excessão de duas professoras, todos fizeram direitinho a sua "homework". Pra encerrar os dois dias, nada melhor que uma colher de chá para esses alunos. Então desenvolvi a dinâmica da roda de poemas, com poesia, cantigas de roda, música e dança. Eu, além de recitar fiquei no pandeiro, que tô aprendendo a tocar e muito bem. Queria aproveitar e falar um pouco das visitas às bibliotecas aqui da região. Todo início de semestre eu faço uma visita nessas bibliotecas públicas para articular projetos em parceria com a Associação Cultural Literatura no Brasil e para doar as publicações da Prefeitura de Suzano, onde eu trabalho. É sempre a mesma coisa, marasmo total. Só que dessa vez eu fui com a esperança renovada, pelo motivo de algumas cidades terem trocado seus prefeitos e secretários de Cultura e/ou Educação. Com o perdão da palavra, continua a mesma bosta. 1- Bibliotecas fechando no horário de almoço ou fechadas sem motivo; 2- Funcionários sem educação e que não param de lixar a unha nem pra dar bom dia pra quem chega; 3- Bibliotecas vazias; 4- Sem bibliotecárias; 5- O cidadão não tem acesso direto aos livros. Inúmeros são os problemas dessas bibliotecas que afastam cada vez mais o leitor. E já é comum nos meses de janeiro, fevereiro, julho, agosto e dezembro, as bibliotecas ficarem vazias. Isso se deve à herança maldita de que a biblioteca é somente para pesquisa, por isso esses meses os alunos das escolas não vêm aqui porque não tem trabalho para fazer. Então significa que agora, com a democratização do acesso à internet, a biblioteca ficará eternamente vazia, já que temos muitas ferramentas de pesquisa on line? É isso mesmo que está acontecendo, não se criou políticas de incentivo à leitura de textos literários nas bibliotecas, cadê os eventos, cadê as palestras de escritores dentro da biblioteca?
Assim não vai! Não dá jeito! Isso é um desserviço à população! As bibliotecas comunitárias estão muito melhor do que as públicas, mesmo sem apoio nenhum do poder público. Como não gosto de ficar sentado, vendo esses descasos por aí, vou articular todos os membros da Associação Cultural Literatura no Brasil para conversarmos com os prefeitos e secretários desses municípios. Do jeito que tá não dá para continuar. No mais, quero lembrar á todos os envolvidos com projetos de leitura, que a associação de literatura aqui de Suzano está à disposição para o que precisar. Basta enviar um e-mail para: literaturanobrasil@bol.com.br ou ligar para: (11) 4749-0384 - Francis Gomes. Abaixo segue algumas imagens da oficina com os professores. Saudações literárias!
Oficina da tarde - 22 inscritos
Professora e advogada
Professor Jônathas, segunda vez que participa de uma oficina minha
Momento da Roda de Poemas
Oficina manhã - 23 inscritos
Botei todo mundo pra trabalhar que o serviço não é mole
Olha eu no pandeiro aí gente
Bóra dançar uma valsa
Esse aí de azul claro é professor de educação física, e deixou de participar de várias oficinas ligadas à sua área para participar da oficina de leitura. Ponto pra Literatura.