_______ Nesses últimos dias venho dedicando cerca de 6 horas diárias na produção do meu novo romance, o "Estação Terminal". Fico até às 2h ou 3h da manhã escrevendo, deletando, refletindo, criando fatos e pesquisando.
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O tema central do livro foi vivido por mim durante 12 anos. O livro é a história do terminal Metrô Itaquera e os problemas que o cercam, como o transporte clandestino e alternativo, os ambulantes, os moradores de rua que vivem ali, pedintes, máfia dos policiais e a máfia da Viação Cidade Tiradentes. O romance é permeado pela vida de sete protagonistas: Pixote, Gago, Mastroloco, Maria José, Cadeirinha, Arilson e Helton Lima. Todos com seus conflitos e crises que fará do livro um instrumento da verdade humana para o leitor desatento entender que precisa ser chocado pra acordar para a realidade que o cerca.
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Como sempre faço em minha criação literária, uso de todos os meios possíveis de pesquisa para compor um texto que seja bom. Assim como ouvi centenas de músicas de forró, quando compus o conto "Os Prazeres de Sara" para os Cadernos Negros 28, hoje, escrevendo "Estação Terminal", o computador aqui de casa fica conectado à internet o tempo todo, pois o livro se passa entre os anos de 1988 à 2006, antes da chegada do Shopping Itaquera e poucos anos depois da chegada do Expresso Leste e do Poupa Tempo.
Com isso estou ouvindo muita música, músicas que ouvia nas viagens de lotação que fazia como cobrador da Cidade Tiradentes até o Metrô Itaquera, ida e volta, músicas que meus companheiros de trabalho da época, abriam a porta de trás da kombi ou da van e aumentavam no último volume.
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Meu ex-patrão adorava Roberto Carlos. De segunda a sexta-feira, das 5h às 6h da manhã, ouvíamos "As canções que você fez pra mim", programa na Nativa FM, apresentado pelo Dudu Braga, o segundinho, filho do rei.
Foi assim que aprendi a gostar de Roberto Carlos, que aprendi a ouví-lo.
Portanto, estou re-ouvindo diversas músicas para voltar de verdade à esta época, época que presenciei mortes de dezenas de amigos e passageiros, por conta do olho grande de muitos motoristas, e de policiais mafiosos que tomavam de assalto linhas de lotação para enriquecer. Época que a ex-prefeita Marta Suplicy enfrentou a máfia dos empresários da Viação Cidade Tiradentes e do Sindicato do crime, época do nascimento das cooperativas do transporte alternativo e dos lucros exorbitantes das concessionárias de vans, sprinters e microônibus.
Porém, vale dizer que o livro é ficção, mesmo baseado em todos esses fatos dito acima. É que é necessário recontar literariamente os fatos pra dar espaço e voz aos ditos vencidos na história da humanidade.
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Postei abaixo quatro músicas que me remetem à época. Mas creio que somente eu, ao ouvir essas músicas, ter vivido 12 anos nesse lugar e agora relembrando momento á momento, através de minhas anotações e de lembranças, sofro com tudo, por tudo e por todos. Mas nenhum de vocês sabe o tamanho dessa dor, muito menos a quantidade de lágrimas que derramo nessas madrugadas de criação desse romance.
Talvez é porque eu seja muito sensível. Mas bem sei o que vi, e algumas coisas só entendi depois, porque iniciei lá com 8 anos de idade. Quem sabe quando lerem o livro sintam essa angústia. Se isso acontecer, o romance cumprirá sua missão.
Leminsk disse em um dos seus pequenos textos que um homem com dor anda mais elegante.
Nunca fui tão elegante em toda a minha vida.