domingo, novembro 07, 2010

Leitura nas prisões

E fizemos a 1ª penitenciária!
Eu e a escritora Valéria Rezende estivemos em Porto Velho, Rondônia, para desenvolver diversas oficinas de leitura e literatura, tanto para os internos quanto para os agentes. Esse trabalho faz parte do projeto "Uma janela para o mundo - Leitura nas prisões", realizado pela UNESCO - ONU, em parceria com os Ministérios de Justiça, Cultura, Educação e Desenvolvimento Agrário.
Nesse ano ainda iremos visitar as Penitenciárias de Catanduvas no Paraná, Campo Grande no Mato Grosso do Sul e Mossoró no Rio Grande do Norte.
A experiência da primeira etapa foi bem produtiva pra gente, os mediadores e creio que para os internos e para os agentes federais. Só não tivemos tempo de dar uma volta pela cidade, pois os três dias que estivemos por lá foram praticamente dentro da penitenciária. Entrávamos às 8h e só saíamos ás 19h.
O calor, pra mim, era insuportável, lá dentro então nem se fala. E pra ajudar o horário de lá é de duas horas a menos que em Sampa. Tava com a rotina totalmente descontrolada. Imagine então eu lá dentro, sem celular e sem relógio?
Me sentia um deles, mas claro, a agonia nem se comparava, pois sabia que a qualquer hora, se eu quisesse, eu poderia sair.
Uma coisa que me chamou bastante a atenção é que os funcionários efetivos de lá (policiais, assistentes sociais, médicos e pedagogos) são todos concursados e de fora do Estado de Rondônia. Todos deixaram casas, amigos e familiares para trás para ir trabalhar dentro de uma penitenciária na zona rural, privado de tudo aquilo que o cercou por anos e anos.
Eles não conseguem fazer amizades porque como agentes do sistema penitenciário federal, têm que tomar cuidado e também por outros motivos: Rondônia faz fronteira com um país que, segundo pesquisas, é o maior exportador de maconha e cocaína. Por isso em Porto Velho os moradores são muito reservados. Logo os agentes do sistema estão privados de novas amizades.
A pergunta que me inquieta é: Quem ali dentro são os verdadeiros internos?
Acho que tenho uma resposta para essa questão.
Segue abaixo algumas imagens das oficinas:

A gente fica separado por uma grade

E não pode encostar nela de jeito nenhum

Quando eles vão se reunir em grupo tem que ser um por vez

Nada de tumulto

Os escritores e semeadores de leitura: Valéria e eu (Sacolinha)
Trabalhei bastante com interpretação de poemas
Enquanto eles produzem a gente planeja a próxima atividade
Teve até música pra quebrar e abrir um clima
A Valéria foi a dançarina: com pilhas na mão ela fazia a performance da música "oito pilha é um real", que é um coco do Zé de Riba