Domingo, 20/4, às 14h.
Acabo de chegar da rua. Estava no bairro Sesc, que fica aqui mesmo em Suzano. Lá, eu e mais três da Associação Cultural Literatura no Brasil, Cákis, Francis Gomes e Micheli Silva, estávamos arrecadando livros de casa em casa. Essa ação é um dos eixos do nosso projeto "Campanha de incentivo à bibliotecas comunitárias".
Chegamos no bairro às 9h. Eu com meu carro e o Francis com o dele e dentro a Micheli e o Cákis.
O bairro é nobre, acreditem. Nas casas que tinham alguém, pois a maioria viajou, no mínimo havia dois carros na garagem, e não é popular não. Deu 11h e o bairro continuava vazio, enquanto lá no Jd. Revista, periferia onde moro, eram 8h e já tava fervilhando com gente pra lá e pra cá.
De cada cinco casas que batíamos palmas, em uma éramos atendidos. Havia casas que tinha gente, mas ou fingiam não ouvir ou mesmo gritavam lá de dentro: "Quem é?" ou "Que cês qué?"
Nesses momentos, o Francis todo ingênuo, iniciava o diálogo. Eu logo pedia pra ele parar e dizia para a pessoa lá de dentro: "Se puder vir até aqui um minuto ou mesmo aparecer na janela..."
Alguns apareciam, outros diziam que estavam ocupados, aí vinha eu: "Obrigado, tenha um bom domingo".
Amigos meus vivem perguntando o por quê de eu, estar batendo de casa em casa, pedindo livros, entregando panfletos de conscientização, indo em ong's e escolas gratuitamente para falar de literatura. "Pô Sacolinha, se é doido. Onde já se viu, escritor, foi no Jô, tem curso superior, é mó conhecido e lido por um mundaréu de gente, fazendo isso e ainda de domingo?"
Aí, eu respondo: "É porque é muito bom descer do pedestal, largar o microfone e dialogar com as pessoas".
Às vezes eu dou uma resposta seca quando falam "Se eu fosse você eu nem fazia isso, cê é escritor". Eu digo: "Grande coisa ser escritor nos dias de hoje".
Continuando nossa peleja pelas ruas: As pessoas acham que doando livros pra gente estão fazendo um grande favor, pelo contrário, muitos doam porque os livros estão lá, jogados num canto da casa, mofando. A preguiça e a falta de disposição são tantas que essas pessoas nem mesmo botam numa caixa e levam para a biblioteca mais próxima.
Estamos ajudando a limpar muitas casas com essa ação.
Mas não são todos, muitos até saíam de casa para nos atender no portão e, mesmo não tendo livros, pegavam nosso contato para tentar contribuir de alguma forma.
Houve momentos em que tive que bater palmas de forma diferente para mostrar que quem chamava na porta não era testemunha de jeová, pois vimos muita gente se escondendo, achando que estávamos ali para levar a palavra. Só rindo mesmo.
O saldo foi o seguinte: paramos à 12h30 com 187 livros arrecadados. Todos de leitura, nada de livros de geografia, matemática, português. Somos enfáticos nisso "Não aceitamos livros didádicos", até porque estamos incentivando à leitura e não à pesquisa.
Desses arrecadados hoje no bairro do Sesc, tinha desde Julias, Biancas e Sabrinas, até Camões e Joel Rufino dos Santos.
Vamos juntar esses exemplares com mais os que iremos arrecadar nos bairros Pq. Maria Helena e Vila Maluf no dia 11 de maio e mais os que iremos buscar em algumas casas que já nos ligaram e, aí selecionaremos a ordem das 12 bibliotecas comunitárias a serem atendidas pela nossa Associação de Literatura.
Após isso vamos para o segundo eixo da campanha que são os saraus. Depois têm as oficinas de criação textual e as palestras.
Viva a nossa disposição.