terça-feira, janeiro 13, 2009

Navegação no Tietê

Gosto de ser fiel aos compromissos que assumo. Em dezembro passado, após navegar num trecho do Rio Tietê junto ao poeta e cordelista Denivaldo Araújo, resolvemos e firmamos que no primeiro domingo de janeiro iríamos navegar novamente. Só que desta vez, saindo de Mogi das Cruzes e indo até Itaquaquecetuba. O fato é que o primeiro domingo do ano amanheceu choroso e adiamos a aventura para o domingo seguinte. E neste dia (11/01 - às 8h30) embarcamos, eu, Denivaldo Araújo e o escritor Cákis. Conforme prometi, aí estão as fotos. Mas não se empolgue com as primeiras belas imagens. a coisa está ruim para o nosso lado.
A viagem duraria cerca de 4 horas e remaríamos por cerca de 30 km, incluindo aí 3 paradas para assar a carne e tirar umas fotos em terra firme. O caminhão deixou a canoa junto com o Denivaldo às 8h na ponte de Jundiapeba, distrito de Mogi das Cruzes, lá nos encontramos e às 8h30 jogamos a canoa n'água e embarcamos nela junto com uma centena de pernilongo.
A partir daí era só remo e tapa nos bichinhos que caiu de boca na nossa pele procurando algum lugar para chupar sangue. Eu e o Denivaldo fomos à frente comandando a canoa e para equilibrar, já que nós dois não dá o peso do Cákis que foi sozinho atrás, tirando algumas fotos e procurando flagrantes.
Quando os pernilongos sumiram, quando já tinhamos remado uns 4 km, quando já tinhamos clicado algumas fotos e feitos vários flagrantes nas costas das empresas que despejam seu lixo no rio, quando já tinhamos nos escondidos 3 vezes do helicóptero da marinha, enfim, quando a viagem começou a ficar boa, avistamos o pior lá na frente.
Assim como nos 3 trechos em Suzano que vimos em dezembro, onde o rio morria por conta das garrafas pets, galhos e troncos de árvores, corpos de animais e aguapés, nesse trecho encontramos uma barreira maior, e pior, que acabou com a nossa esperança de descer livre até Suzano.
Pra entender o que estou falando vou detalhar: temos o rio. Num determinado trecho desse rio alguns troncos de árvores encalham ao fundo, aí vem uns galhos e grudam nesses troncos formando uma barreira. Depois vem sacos de lixos, móveis, cachorros mortos e garrafas. Tudo parando na barreira e ajudando a fechá-la mais. E quando ela chega à superfície é a vez dos aguapés, que nascem e proliferam, e daí nasce e cresce até árvores.
Pronto, por aí o rio já não passa. Ele está morto nesse trecho. E o que acontece? Ele procura as laterais para correr e continuar o seu percurso. Nisso vai criando outras margens e correndo por outros lugares nunca antes imaginados: fundos das empresas, lagoas, campos de futebol de várzea, até chegar às ruas e casas. Aí, já é tarde meus caros.
Voltando então para o momento em que tivemos que abortar a viagem. Tentamos procurar o outro trecho onde o rio fluía novamente, mas essa barreira tinha mais de 500 metros, cerca de meio quilômetro, e a canoa dessa vez era mais pesada. Até carregamos ela por uns metros, mas depois que encontramos o Seu Aníbal, que mora num terreno às margens do rio, e ele disse que dali há dois quilômetros o rio morria de novo e mais há frente de novo, desistimos de navegar, pois se insistíssimos, passaríamos o resto do dia navegando um pouco e carregando a canoa na margem e nunca chegaríamos à Suzano.
Então paramos ali mesmo e acendemos um fogo para fazer brasa e assar a carne, enquanto isso papeamos sobre muitos assuntos com o Seu Aníbal que cria gado, galinha, planta abacaxi e orquídeas, tudo ali na beira do rio.
Depois da carne, compramos 4 litros de leite (fresquinho) do Seu Aníbal e ganhamos dois ramos de orquídeas ainda com a raíz. Esse senhor ainda fez o favor de atravessar a gente para o outro lado, de onde ficou mais fácil para voltarmos na caminhada para casa.
Mesmo diante do acontecido ainda conseguimos repor as energias para esse ano, pegar muitas informarções que irão me ajudar na revisão final do meu romance ecológico "O homem que não mexia com a natureza", e ainda adquirir muita inspiração.
Faço isso por todos esses motivos e porque não sou escritor de gabinete, gosto de ir atrás do meu assunto.
Ainda temos mais imagens. Essas que vocês estão vendo são da minha máquina. O Cákis tirou outras na máquina dele e inclusive filmou alguns momentos, já que ele estava numa posição privilegiada e com as mãos abanando.
Essas fotos não estão na ordem, justamente para fazer você ler todo esse texto e só aí identificar os momentos.
Quem tiver a oportunidade de vir até Suzano, na minha casa ou no Centro Cultural, eu mostro todas as fotos e os vídeos que fizemos.
Mas é preciso gostar da natureza para isso. Eu gosto dela a ponto de viver essa aventura.
Mas que não vai ficar somente nisso. A denúncia virá em forma de livro.