segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Conto com títulos...

O amigo e poeta Sérgio Vaz resolveu fazer uma brincadeira que virou conto. O danado pegou alguns títulos de livros que foram lançados nos últimos anos e fez uma bela história. Leia na íntegra:
A Poesia dos deuses inferiores - Sérgio Vaz
*baseado em fatos que não aconteceram, mas que poderiam ter acontecido facilmente
A Guerreira em questão morava no topo da favela, lá, onde subindo a ladeira mora a noite, e chegava do trabalho lá pelas dez. Um ônibus lotado, mais o que doía mesmo era o trem. Chegou em casa e o suposto marido, graduado em marginalidade já estava louco de cachimbo, na cidade de Deus onde todos foram esquecidos, o nóia era conhecido como colecionador de pedras. Um dia já foi trabalhador, mas... Pensamentos vadios é foda. Elizandra já não suportava mais essa vida, mas não se sabia porque vivia pelo vão da felicidade, enquanto o desgraçado do Ademiro vivia na fortaleza da desilusão. E assim, viviam a vida queninguém vê. No sábado, hoje é quinta, ela vai matar o desgraçado, só que ela ainda não sabe, nem ele, por isso seguia sobrevivendo no inferno no seu castelo de madeira noite adentro planejando o assassinato. Pronto, já é sábado -resolvi cortar a sexta-feira e partir direto para os acontecimentos. Quando Elizandra chegou, moída do trabalho, encontrou novamente o traste bem louco na cadeira no canto da cozinha. A casa estava imunda, um quarto de despejo. Foi a gota D´agua. Ela o matou com o tiro bem no meio da cabeça. Foi assim: Há alguns dias ela tinha conseguido um revólver emprestado de um admirador, que não via a hora do nóia se mudar do Capão pecado para ele logo se entocar na goma do malandro. A Guerreira já chegou decidida, o zóio estava pegando fogo, vixe, ela era o próprio manual práticodo ódio. Chegou no barraco às cegas, mas qualquer um podia sentir o rastilho da pólvora que ela trazia no olhar. Estava ali, de passagem, mas não a passeio, e pensando que cada tridente em seu lugar, ou seja, ela feliz, ele a caminho do inferno. Já podia vê-lo no cemitério no buraco do terrão, tipo desenho de chão. Ela o chamou pelo nome: -Ademiro, vou te dar uma letra. Ele olhou para ela e para o cano do cano do brinquedo assassino que ela trazia nas mãos. -Eita porra, que porra é essa? -Acabou! Disse mais um monte de coisa e gastou toda sua gramática da ira contra o aspirante a defunto. Dizem alguns vizinhos que ela deu várias letras, mais ou menos, 85 letras e um disparo. O barraco virou um angu de sangue, deu até no notícias jugulares: “Morre nóia que batia na mulher”. A vizinha que lia a manchete olhou para o dono da banca e disse: -A morte desse verme foi um presente para o gueto. Periferia é periferia em qualquer lugar!