sábado, abril 04, 2009

Resenha

O Lobato que poucos conhecem

Por: Sacolinha*

Criei em 2005, dentro da Associação Cultural Literatura no Brasil, o projeto Trocando idéias, que consiste no debate à cerca do livro e do autor. Neste ano de 2009, por estarmos num momento propício que foi a eleição de um homem negro para o maior cargo da política americana, escolhemos o livro “O Presidente Negro” de Monteiro Lobato, único livro adulto que o autor escreveu e que nem deveria ter escrito. Trata-se de uma obra preconceituosa, machista e xenofóbica.

Foi escrito em 1926 quando Monteiro Lobato estava de malas prontas para viver 4 anos nos Estados Unidos e tinha a intenção de ganhar, com a publicação desse livro, um saco de dólares e se manter todos esses anos no país da Ku Klux Klan.

O racismo explícito de Lobato vem logo num parêntese abaixo do subtítulo “O choque das raças” – (Romance americano do ano 2228). Essa observação do autor leva a crer dois fatos. O primeiro, que Lobato se vendeu para os EUA, pois se não bastasse a imagem ruim que ele passou ao mundo do nosso caipira, através do Jeca Tatu, ainda resolveu fazer um romance americano, entenda Estados Unidos, bem ao gosto do Tio Sam e para o seu agrado.

O segundo fato é que com essa observação o autor afirma que somente no ano de 2228 é que em algum lugar do mundo existiria um presidente negro. O que, no livro, nem chega a acontecer, já que há uma tragédia que faz com que o presidente eleito nem chegue a assumir o cargo. Isso é ocasionado pela esterilização dos negros através do alisamento dos cabelos oferecido pelo governo em parceria com uma empresa privada. Previsão bem equivocada do autor, já que mesmo antes de chegar o ano citado no livro, o negro achou varias formas de viver com o seu cabelo crespo, e que muitas pessoas chamam de ruim. Ruim a partir do quê?

O que existe são cabelos diferentes.

O livro chega a ser tão mal escrito que o romance paralelo que se passa nele acaba não sendo notado pela imenso valor que Lobato dá ao fato de prever o futuro através de uma máquina chamada porviroscópio. O livro foi escrito em apenas três semanas e usa três pessoas para imprimir o preconceito do autor. O senhor Benson, criador do porviroscópio, que passou a vida inteira trabalhando nele. Sua filha Jane que não teve outra ocupação a não ser ajudar o pai e a ver o futuro. E por fim o cidadão Aylton, empregado de uma empresa de contabilidade que sonha em ter um carro Ford para passar por cima das pessoas, literalmente.

O romance paralelo se passa com essas três personagens, onde o senhor Benson morre desgostoso com a vida, deixando a sua filha totalmente desnorteada e sem sentido, a não ser depois que começa a contar todos os domingos sobre o que viu no futuro, para o Aylton. Esse, depois que perdeu o carro num acidente e ficou desempregado, se dedicou a visitar a moça com o intuito de não somente ouvir as previsões, mas com o desejo de amá-la.

Eu, por ser um escritor e adorar trabalhar nas entrelinhas, fiquei mais interessado em saber quando o Aylton iria conseguir dar uma acochada e um beijo de declaração em Jane.

Mas nada disso é notado pelo leitor que fica só na expectativa de saber como se dará o fechamento do livro e esperando ler mais detalhes desse futuro.

Na década de 1930 Monteiro Lobato recebeu algumas críticas por suas idéias e chegou até a ser perseguido e preso, e segundo alguns artigos sobre ele, foi por isso que resolveu se dedicar apenas a literatura infantil.

E por que será?

Pena que mesmo sendo ficção, diante de tanta tecnologia e mudanças drásticas no cotidiano das pessoas, em 2228 o tema principal e que dá o enredo da história, é o preconceito racial, ou seja, o ser humano continua sendo mesquinho, a olhar para o seu semelhante através da cor da pele.

*Sacolinha tem 25 anos, nasceu na cidade de São Paulo e é formado em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes. É escritor, autor do romance “Graduado em Marginalidade” (2005) e do livro de contos “85 Letras e um Disparo” (2007) em sua 2ª edição pela Global editora. Atualmente trabalha como Coordenador Literário da Prefeitura de Suzano e administra o Centro Cultural Boa Vista.