segunda-feira, julho 16, 2007

Argumentos

Eu, prostituta?*
Porra nenhuma. Nome mais feio esse que arrumaram pra gente. Não tinham um nome melhorzinho não? Dizem que este nome tem a ver com o Marcel Proust, aquele do tempo perdido. Hum, se for mesmo então tá bom, mas por quê? Será que ele vendia prazeres também? Ouvi dizer que os escritos do Proust levam a pessoa à loucura... Ah, sim, é verdade, deve ser por isso, a gente também leva o homem à loucura. Têm uns que chegam aqui de cabeça baixa, com a auto-estima lá no sapato, tadinho, a gente vê no olhinho dele a tristeza. Na hora do programa a gente reverte a situação. Já passei por cada uma, só vocês vendo mesmo. Há uns que não sabe nem o que diz, fala que me ama, que eu sou tudo na vida dele, linda, gostosa, tesão... E o cara nem me conhece. Recebo convites o tempo todo; é um que me chama pra morar junto, outro que quer namorar, até convite de casamento eu já recebi. Vê se pode. É tanta coisa que a gente faz pra sociedade e ela vem com um nome ridículo, “Prostituta”. Cora Coralina declarou ser a minha irmã sabia? É, você não leu não? Chama-me de prostituta e você mesmo não lê. Eu leio, e não pense que sou fã desses livrinhos de banca de jornal, as Biancas, Julias e Sabrinas, isso eu deixo pras depressivas. Minha leitura é outra. Pois é, como eu estava falando, a Cora Coralina fez uma poesia para nós, “Mulher da vida, minha irmã”, nessa poesia ela fala tudo sobre a gente, por isso acho que todas as pessoas de todas as línguas devem ler esta poesia da Cora, assim vão aprender a respeitar a gente que muito faz pra sociedade. Você ri é. Então vai anotando aí os favores que nós fazemos, anota aí as tragédias que evitamos. Estupros. Evitamos muitos estupros. Chegam uns viciados em sexo por aqui, tudo insaciáveis, e o pior é que são tudo feios, coitados. Aí você imagina se nós não existíssemos, as mulheres não dariam bola pra eles e iam pegá-las a força. Estupro isso sim que iria acontecer. A minha irmã Cora poetiza diz isso na sua poesia. De vez em quando chega uns estressadinhos querendo se amenizar, e tudo de aliança no dedo. Eles vêm com uma fúria que se você não se segurar eles te rasgam toda. É mesmo, eles ficam nervosos e estressados e vêm descontar na gente. No final de tudo se limpam, pagam e vão embora, só voltam quando a adrenalina sobe de novo. Não estou reclamando não, só fazendo uma observação. Ah, sim, lembrei, o CENSO vive atrás da gente querendo fazer pesquisa. É o CENSO mesmo? Ah, sei lá, são umas pessoas que chegam aqui falando que são de não sei de onde. Perguntam com quantos transamos por dia, quem são os homens que nos procura e outras coisas. Só não perguntam a cor, deviam perguntar. Fica aí uma sugestão né? Os brancos é que nos procuram mais sabia? Em segundo lugar são os negros e em terceiro são os japoneses. Mas os mais gostosos são os negros, eles têm um corpo firme, umao de nng, e ss que hagam aqui uisarior, fazer filhos e viver feliz com eles. comer , tes convicção na transa. O cacete então nem se fala, duro e gostoso de pegar, quando entra na gente parece que vai atingir o outro lado de tão grande que é. Isso não é só eu que penso não, pelo menos já vi muitas mulheres por aí falando isso e no meio que trabalho a opinião é coletiva. Agora o nome “Prostituta” foi abreviado por “Puta”, e não é que inventaram um palavrão com nosso nome? Chamar alguém de “filho da puta” é ofensa. Que que é isso pessoal? Puta é sinônimo de mulher guerreira, forte corajosa. Quem é chamada de “Puta” tem é que ficar lisonjeada, pois a gente faz tanta coisa, coisa inclusive que homem não agüenta viu... Imagina aí, às vezes transamos com oito ou dez clientes por dia, agüentamos hálito de cachaça e homem pesado em cima de nosso corpo, às vezes estamos sem um pingo de disposição e tesão, mas mesmo assim deixamos o cliente satisfeito. Odeio ouvir as mulheres falando que somos de vida fácil. Fácil o escambau, por que elas não vêm pra essa vida então? Se eu pudesse arrumava um homem humilde e bonito e ia morar numa casinha qualquer no interior, fazer filhos e viver feliz com eles. Mas não posso, optei por essa profissão e tenho que honrá-la, não posso voltar atrás, além do mais eu presto um grande serviço à sociedade como já falei. Só não gosto desse nome, maldito nome. Eu não sou prostituta.
Sacolinha
* retirado do livros 85 Letras e um Disparo